domingo, 10 de abril de 2011

Palavras soltas

 Pedra Filosofal

Eles não sabem que o sonho

é uma constante da vida

tão concreta e definida

como outra coisa qualquer,


como esta pedra cinzenta

em que me sento e descanso,

como este ribeiro manso,

em serenos sobressaltos


como estes pinheiros altos

que em verde e ouro se agitam

como estas aves que gritam

em bebedeiras de azul.



Eles não sabem que o sonho

é vinho, é espuma. é fermento,

bichinho alacre e sedento.

de focinho pontiagudo,

que fossa através de tudo

num perpétuo movimento.



 Eles não sabem que o sonho

é tela, é cor, é pincel,

base, fuste, capitel.

arco em ogiva, vitral,

pináculo de catedral,

contraponto, sinfonia,

máscara grega, magia,

que é retorta de alquimista,

mapa do mundo distante,

rosa dos ventos, Infante,

caravela quinhentista,

que é Cabo da Boa Esperança,

ouro, canela, marfim,

florete de espadachim,

bastidor, passo de dança.,


Colombina e Arlequim,

passarola voadora,

para-raios, locomotiva,

barco de proa festiva,

alto-forno, geradora,

cisão do átomo, radar,

ultra som televisão

desembarque em foguetão

na superfície lunar.



Eles não sabem, nem sonham,

que o sonho comanda a vida.

Que sempre que um homem sonha

o mundo pula e avança

como bola colorida

entre a mãos de uma criança.

António Gedeão

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